O Pedra da Mata para mim foi um catalisador, um impulsionador, uma catapulta que me levou de um estado A para um estado B, onde eu não conhecia uma parte de mim que estava adormecida. Exigiu uma dose de coragem para sair do estado onde eu estava para buscar algo maior, para ir além. E nada melhor que se reencontrar, se redescobrir fazendo algo diferente, algo novo. Me arrisquei na aventura de fazer uma nova faculdade, e já que iria fazer isso, porque não fazer com algo que eu gosto, que é a natureza, as plantas, os nossos alimentos? Isso tem me dado muita alegria, muito obrigado por tudo!
Morei no Pedra da Mata por 6 meses e aqui conto minha experiência. Não vou falar sobre as maravilhas da vida na natureza, do silêncio e paz do sítio, da comida fresca de verdade, da convivência com os bichinhos, nem das noites estreladas e pores do sol lindos admirados do teto verde, pois, apesar de serem características realmente marcantes, o que mais me impactou foram as relações interpessoais.
Toda semana nos reuníamos, tanto para discutir os planos da semana, quanto para falar do que o coração estivesse cheio, fossem dúvidas, medos, alegrias, empolgações, preocupações. Era um espaço para ser escutado e escutar, acolher.
Isso tudo foi se tornando possível graças aos ensinamentos da Comunicação Não Violenta (CNV), trazidos a nós pela Eliana, com os quais aprendemos a escutar verdadeiramente, observar e compreender nossos sentimentos, nos colocar no lugar do próximo, evitando julgamento e nos expressar da forma mais clara possível. A descoberta da CNV realmente mudou a minha vida, e só poderia ter acontecido no Pedra da Mata, com todos que foram sempre tão acolhedores e queridos, cujas amizades levarei para a vida toda.
Às vezes precisamos nos afastar um pouco para observar o fenômeno de fora e compreendê-lo. É difícil ponderar sobre a lógica da cidade enquanto se está na cidade, passar um tempo na Pedra da Mata foi fundamental para entender como a dinâmica da cidade afeta minha vida, sem o barulho do trânsito, das obras e percebendo outras formas de exercer o trabalho, tive a oportunidade de olhar um pouco para dentro e revisitar quem sou eu. O constante contato com outras perspectivas me fez questionar o lugar do tempo histórico em que nos encontramos atualmente, por um lado, pouca perspectiva de mudança e, por outro, acreditar que cada ação faz a diferença.
A alimentação foi um dos fatores de maior importância em minha estadia, comer comida orgânica faz muita diferença, percebo hoje como a falta de acesso à comida orgânica na cidade é uma grave ameaça à saúde. Respeitar o tempo dos alimentos e ter o respeito próprio com o que ingerimos é fundamental.
Outro aspecto de grande importância foi a descoberta da Comunicação Não Violenta (CNV), um artifício que pretendo levar para toda a vida, é preciso escutar! Paralelo à isto, ter presenciado um ambiente com pessoas que acolhiam meus sentimentos, minhas ideias e que estavam verdadeiramente dispostas à conversar e refletir tornou minha estadia um aprendizado constante, onde diariamente novas ideias eram debatidas.
Ao final, descobrir que não podemos fugir de quem somos de verdade foi a questão mais importante, respeitar minhas próprias vontades e limitações, respeitar meu próprio tempo e o tempo da natureza. Em minha concepção, a Pedra da Mata é local de semear, semear comida e semear ideias, ambas de forma orgânica.